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quarta-feira, 6 de abril de 2011
Otelo, O Grande - Eduardo Humbertto
FONTE: Jornal CORREIO de Uberlândia - 19/03/2011
http://www.correiodeuberlandia.com.br/pontodevista
Na Grécia Antiga acreditava-se que a memória era sobrenatural, um dom a ser exercitado, é uma referência clara à deusa ‘Mnemosyne’, mãe das Musas, que protegem as artes e a história, já para os romanos a memória era considerada indispensável à arte. Sendo assim, acredito se tratar de uma faculdade humana individual e coletiva que deve ser continuamente alimentada, consultada e inegavelmente preservada.
Trazendo para o nosso contexto espacial e peculiar, quando reflito sobre o termo memória, correlaciono a um estímulo automático, particularmente me prendo às biografias — que vou chamar aqui de sucessões de acontecimentos simultâneos, ou não, que resultam em algo maior que se desprende do tempo e lugar tornando-se um bem universal — partindo dessa reflexão, o nome que mais vibra é o de Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Bastiãozinho da antiga São Pedro de Uberabinha.
Para escrever, quero me descolar drasticamente dos últimos acontecimentos, onde o nome dele é lembrado apenas como um espaço cultural interditado, pois temo me retirar paulatinamente do meu foco principal, que é ressaltar a memória de um dos maiores artistas que o país já teve e que é filho desta terra, o Grande Otelo, mas não o teatro, e sim o artista, o mesmo desinibido que cantava e dançava maxixe para os hóspedes do extinto Hotel Goyano (atual Edifício Rubens De Freitas), a figura exótica que estudava na Escola Bueno Brandão, que tinha medo de passar na frente do cemitério, e cujo talento ganhou os palcos do Brasil e do mundo.
Apesar da vida dura de grandes dificuldades e das tragédias pessoais, o trabalho de Grande Otelo contribuiu decisivamente para a criação de uma linguagem nacional de teatro musical, que ficou expressa por meio do brasileiríssimo teatro de revista. Fato este que ficou marcado na história do teatro brasileiro e foi devidamente tratado na última biografia lançada: “Grande Otelo, uma biografia”, de Sérgio Cabral.
Com uma carreira rica no teatro, no cinema e na televisão contemplada não somente como ator, mas também como cantor, compositor e poeta. Grande Otelo era muito admirado no meio artístico. Bibi Ferreira, uma das atrizes brasileiras mais importantes do século 20 e ainda em atividade, disse em depoimento: “Eu poderia falar páginas e páginas sobre Grande Otelo como amigo, colega ou ator. Resumo tudo no que outros já disseram, Otelo é gênio. Simplesmente isso”.
Um artista negro, numa época em que o preconceito não era velado, e sim bastante escancarado, enfrentou grandes percalços para fazer história e se tornar o uberlandense mais ilustre, contudo, acredito que ele não queria ter monumentos em sua homenagem, e sim que as pessoas e a memória da cidade se lembrassem dele e se apropriassem, como verdadeiramente era, um grande artista, o nosso Grande Otelo.
Buscar o contato com a história de Sebastião Bernardes de Souza Prata não é apenas idolatrar um conterrâneo é, acima de tudo, reconhecer nele a nossa força e capacidade de atingir o que a primeira vista nos parece impossível, é também consolidar um exemplo de vida e firmar uma referência da nossa gente perante o mundo. Não è a toa que o nome de Grande Otelo está sendo entoado neste momento em que a população pede cultura e mais espaços para a arte teatral.
Eduardo Humbertto
Estudante universitário
eduardohumbertto@hotmail.com
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